Simbiose Organizacional

O Papel da Inovação no Desenvolvimento Sustentável

Maria Lúcia Nakid | 12/05/2017

Recentemente temos ouvido e falado muito em inovação. A tecnologia com a rapidez de disseminação da informação e da comunicação nos deixam conectados a um universo de novidades que surgem a cada instante. Mas do outro lado, há bilhões de pessoas que nasceram e cresceram sem nunca terem tido condições razoáveis de participar deste nosso sistema socioeconômico, que atende a uma pequena elite de parte do mundo. Porém são amplamente afetados pelos efeitos que o nosso sistema foi construído e a opera.

Dados e fatos comprovam:

– Em nossa economia global temos 795 milhões de pessoas que passam fome, 1 em cada 9. (http://www.worldhunger.org/)

– Mais da metade das crianças do mundo sofrem com condições de privação como pobreza, guerra e doenças como Aids.

– Ao longo de décadas investimos em pesquisa de produção de alimentos em massa (junk food) que são de baixa qualidade nutricional, causam doenças e poluem nosso ambiente.

– Gastamos imensos recursos em assistência médica que remediam sintomas quando poderíamos ser capazes de promover a saúde na sociedade.

– Apesar das inúmeras evidências dos limites ambientais em que nos encontramos, de maneira global, pouco mudamos nossa forma de consumir, construir, explorar, cultivar.

“A luta contra o aquecimento global é mais do que uma questão ambiental. É condição essencial para fornecer ao mundo comida e água, para salvar a biodiversidade e proteger a saúde, para combater a pobreza e a migração em massa, para desencorajar a guerra e promover a paz, e, ao final do dia, para dar ao desenvolvimento sustentável e à vida uma chance” (LAURENT FABIUS, ministro francês e presidente da COP21 – em discurso na COP21).

 

A transformação em nossas mãos

Em busca de um ideal de vida e de soluções, criamos em paralelo problemas e situações que não desejamos.  Todas as interferências que fizemos vieram através de processos criativos e inovadores, faz parte de nossa natureza humana. Quando desejamos introduzir e implementar novas práticas e conceitos construtivos na sociedade, temos que entender como a dinâmica das transformações acontecem.

Segunda a teoria de Kurt Lewin, para uma mudança de comportamento acontecer não basta ter o entendimento completo e holístico da situação, mas como esse entendimento se aprofunda ao longo do processo de mudança. “A aprendizagem é mais efetiva quando é um processo ativo, não passivo” (KURT LEWIN,1920).

Na esfera individual as mudanças podem deixar as pessoas na defensiva, relutantes em abandonar suas zonas de conforto e passar a aceitar um novo conjunto de crenças e atitudes. Esta resistência pode ser quebrada quando o indivíduo perceber que a mudança é necessária e lhe traga benefícios. “Quando entende que o seu destino depende do destino do grupo inteiro, o sujeito sente vontade de assumir uma parte da responsabilidade do bem estar geral” (KURT LEWIN,1920).

Diversos movimentos atualmente, trabalham pela conscientização e pela mudança social. Citando o movimento fundamentalista e o movimento ecológico, por exemplo, que difundem profundas mudanças de valores, questionando a obsessão pelo consumo material e redefinindo as relações entre os seres humanos e a natureza.

“Os maiores problemas da nossa era: mudanças climáticas, pobreza, energia, água estão conectados, são interdependentes. Suas soluções também” (FRITJOF CAPRA, em sua fala de abertura do Congresso Internacional de Sustentabilidade para pequenos negócios – ciclos –  realizado em Cuiabá/MT pelo Sebrae em 2015).

Mas, existe um caminho, que pode frear, dar tempo e espaço para que a Terra se recomponha, que depende da força humana. Ainda segundo Capra, a sobrevivência da humanidade depende da nossa alfabetização ecológica, que significa entender os princípios básicos da ecologia que os ecossistemas desenvolveram para manter a teia da vida.  Através do que ele chama de alfabetização ecológica que estimula o pensamento sistêmico, pensamento que se estrutura em torno das relações, contextos, padrões e processos.

Os projetistas ecológicos pregam a transição de uma economia baseada nos bens para uma economia de serviço e fluxo que além de diminuir a poluição também cria novas oportunidades de emprego e revitaliza as comunidades locais. Nosso grande desafio, e dos que se propõem a inovar, é construir e nutrir soluções que nos promovam sociedades mais justas e sustentáveis.

E a conscientização vem pela educação – a formal e a natural, no envolvimento das comunidades e na mudança de valores, como sendo a fórmula para a expansão cultural da sustentabilidade. Existem inúmeros casos de iniciativas consolidadas e inovadoras. Além dos meios tradicionais e acadêmicos, através das universidades, instituições de pesquisas e organizações privadas, as mais diversas soluções e tecnologias surgem no terreno fértil das ideias, para a redução dos impactos ambientais e melhorias da qualidade de vida.

 

É necessário quebrarmos os padrões com o passado e nos conectarmos com as possibilidades futuras mais elevadas. Cada vez mais notamos uma maior preocupação da sociedade em relação as empresas e os serviços que consomem. Os consumidores passam a ser mais abertos e dispostos a adquirirem produtos e serviços que não agridem, não desrespeitam o homem e a natureza.

 

 

Negócios Inclusivos – uma oportunidade que causa impacto

 

Uma forma de aliar o desenvolvimento de novos produtos e serviços a necessidades reais são os negócios inclusivos para pessoas que vivem na “base da pirâmide” BDP.

A “base da pirâmide” consiste – à nível mundial – em 3 bilhões de pessoas que vivem com menos de 3 dólares por dia e 1,5 bilhão de pessoas que vivem com até 9 dólares por dia. Porém e acordo com o Banco Mundial, os 4,5 bilhões de pessoas representam mais da metade de todos os gastos (consumo) nos países em desenvolvimento e mercados emergentes.  Entre 2000 e 2010, o mercado cresceu 22% na BDP, com alimentação, moradia e transporte sendo responsável por 62% dos gastos da BDP. 75% da população na BDP vive em cidades. Os lares contam com 3,98 membros e uma idade média de 28 anos.

As empresas que procuram expandir em mercados emergentes observam que estes são clientes potencialmente importantes.

Os negócios inclusivos podem e devem criar oportunidades de emprego e empreendedorismo para as pessoas que vivem na BDP, diretamente ou por meio de cadeias de valor das empresas como fornecedores, distribuidores e parceiros de negócios. Alternativamente, as empresas podem desenvolver formas de prover produtos e serviços a preços acessíveis de alta qualidade para atender às necessidades básicas relacionadas à alimentação, água, saneamento, habitação e saúde. Também podem desenvolver modelos de negócios inovadores para melhorar o acesso a importantes facilitadores de desenvolvimento, tais como energia, comunicações, financiamentos e seguro.

 

Por isso a inovação social é um caminho poderoso, pois possibilita a geração de uma economia com impacto social relevante para quem recebe, sustentável e lucrativo para quem o implementa.

A todos nós cabe sensibilizar, informar, instruir e envolver as pessoas para que o desenvolvimento sustentável ganhe proporções, e que a inovação seja um agente para o bem-estar coletivo e perpetuação do mundo, onde todos os envolvidos sejam beneficiados.

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